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Artigos 18 de February de 2020

Brasileiros Mundo Afora: Quem e Quanto Somos, Porque Emigramos, Onde Vivemos, Porque Retornamos e Quanto Contribuímos

INTRODUÇÃO

Historicamente, o Brasil pode ser considerado um país receptor de população. Ao longo da sua história acolheu imigrantes de vários países do mundo. Desde 1822 até 1949 o país recebeu cerca de cinco milhões de imigrantes, sobretudo portugueses, italianos e espanhóis, além de japoneses, alemães, poloneses,síriolibaneses. Pode-se identificar esse fluxo em três grandes correntes migratórias durante quatro períodos diferentes. O primeiro, de 1880 a 1903, quando entraram no país cerca de 1,9 milhão de europeus, sobretudo portugueses, espanhóis e alemães. O segundo, de 1904 a 1930, com entrada de outros 2,1 milhões, destacando-se entre eles a presença de italianos, poloneses, russos e romenos. No terceiro, de 1932 a 1935, vieram os imigrantes japoneses.Por fim, entre 1953 e 1960, registrou-se uma imigração significativa de espanhóis, gregos e sírio-libaneses.1Imigração no Brasil por Nacionalidade

Depois desses grandes fluxos o país se fechou, mantendo um fluxo líquido próximo a zero no intervalo entre o pós-guerra e os anos 1980, 2Firmeza, George Torquato, (2007), Brasileiros no Exterior. Brasília: FUNAG Após um longo período de estabilidade migratória, na década de 1980, o Brasil experimentou pela primeira vez uma mudança negativa, passando de um país majoritariamente receptor a um país expulsor de população.3A emigração brasileira é, no entanto, muito pequena quando comparada à população residente. Por exemplo, a população emigrante brasileira representa apenas 0,53% da população residente, fazendo o Brasil ocupar a posição 195 no ranking dos 200 países com saldo migratório negativo, ficando à frente somente da Líbia, posição 196 (0,49%); China, posição 197 (0,43%); Bahamas, posição 198 (0,36%); República Centro Africana, posição 199 (0,17%); e Coréia do Norte, posição 200 (0,16%). (DORLING, 2009)

No entanto, isso não quer dizer que o país tenha deixado de receber imigrantes. A partir da década de 1990, foi verificada a entrada de muitos imigrantes coreanos e latino-americanos.4Na América Latina, o Brasil figurava até a década de 1970 como uma área de evasão populacional para os países vizinhos, em especial para o Paraguai e a Argentina. A partir da década de 1980, o país passa a se configurar como uma das áreas de recepção migratória de latino-americanos. (BANINGER, 2005) Ao comparar os dados dos censos brasileiros de 2000 e 2010, é possível notar que o número de imigrantes internacionais não nascidos no Brasil nos anos 2010 era de 93.889, quase o dobro do apurado em 2000, quando este segmento totalizou 55.758 estrangeiros. Esse fluxo mais recente foi formado, sobretudo, por bolivianos, haitianos, angolanos, senegaleses, ganeses, portugueses e espanhóis.

O processo de emigração brasileira teve início na década de 1970 e sofreu crescimento abrupto ao longo da década de 1980. A década de 1990 representa um momento de estabilização relativa dos estoques com um declínio nos fluxos de saída. Esse processo retoma seu crescimento a partir de 2000. De acordo com o Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais, mais de 2,5 milhões de brasileiros viviam fora do país em 1995. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil estima que em 2015 havia cerca de 3,1 milhões de emigrantes brasileiros espalhados por todos os continentes.5Ver em: Estimativas 2015

Os emigrantes brasileiros, ao contrário de vários outros grupos de emigrantes, não estão fugindo de condições de pobreza absoluta ou de guerras civis, assim como também não são refugiados políticos à procura de asilo.6MARGOLIS, M.L.  (1994): Little Brazil: An Ethnography of Brazilian Immigrants in New York. Princeton. NJ. Princeton University. A maioriadeles são oriundos de zonas urbanas e da classe média e classe média baixa, tendo muitos alcançado o nível de educação universitária7SALES, T., (1998). Brasileiros Longe de Casa. São Paulo, Editora Cortez.. A exceção corresponde somente aos trabalhadores agrícolas e aos garimpeiros que partiram para as regiões fronteiriças do Brasil.

Os emigrantes brasileiros, particularmente os saídos na década de 1980, fugiam principalmente da crise econômica que assolou o país e tornou impossível para a classe média manter seu padrão de vida. A “década perdida,”8Comumente, a década de 1980 é chamada de “década perdida” no que se refere ao desenvolvimento econômico de muitas nações. Vivido pelo Brasil e por outros países da 

América Latina, essa fase de estagnação formou-se com uma retração agressiva da produção industrial. Na maioria dessas nações, os anos 80 representam o mesmo que crise na economia, inflação, crescimento baixo do Produto Interno Bruto (PIB), volatilidade de mercados e aumento da desigualdade social.
como ficou conhecido esse período, além de conhecer a hiperinflação, foi marcada por profundos índices de desemprego, baixos salários, alto custo de vida e recessão econômica. A situação econômica drástica pode ser exemplificada pelo fato de que durante este período o Brasil conheceu quatro moedas, cinco congelamentos de salários e preços e nove programas de estabilização econômica.9BROOKE, James. (1993). Brazil Wild Wyas to Counter Wild Inflation. New York: The New York Times.

A emigração brasileira assume cada vez mais um caráter transnacional, isto é, os emigrantes brasileiros mantêm relações econômicas, sociais e políticas cada vez mais robustas com o Brasil e entre si, aumentando sua complexidade e impacto econômico, como é o caso das remessas de dinheiro (remittances), e também das remessas sociais (social remittances), como idéias, comportamentos e valores. Tais conceitos subjetivos, assim como as remessas econômicas, passam por constante vai e vem e desafiam as noções rígidas de fronteiras e culturas nacionais.10Segundo a socióloga Peggy Levitt (2001), “the assumption that people live their lives in one place, according to one set of national and cultural norms, in countries with impermeable national borders, no longer holds”. In Levitt P., The Trasnnational Villagers, 2001. Los Angeles and Berkley: University of California Press.

Por fim, o processo emigratório envolve não somente aqueles que deixam o país para viver no exterior, mas também aqueles que, terminadas suas jornadas em outras terras, voltam – os chamados retornados. As crises econômicas internacionais e as políticas restritivas dos países receptores têm contribuído de forma frequente para estes fluxos de volta. 

POR QUE OS BRASILEIROS EMIGRAM

A década de 1960 foi para o Brasil um período de incertezas políticas e oscilações econômicas. Se por um lado os militares assumiam a condução do país em 1964, por outro, esse período proporcionou altos índices de crescimento. Entre 1962 e 1967, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 3,2%; seguido por um aumento de 10% entre 1967 e 1970; 12,4% entre 1970 e 1973, e 8,3% (menor percentual em nove anos) entre 1973 e 197611BELLUZZO, Luis Gonzaga de Mello e Coutinho, Renata (Org.). Desenvolvimento Capitalista no Brasil. Campinas: UNICAMP. IE. 1998, V.I.. O rápido crescimento do PIB, sobretudo em função do setor industrial, foi acompanhado de grandes transformações econômico-sociais.

A partir de 1979, a economia brasileira começou a sentir o impacto do aumento da taxa de juros internacionais e do segundo choque do petróleo, fatores que ocasionaram a maxidesvalorização de 1979. Tal conjuntura econômica foi responsável por um aumento significativo da taxa de inflação, que ultrapassou 50% ao ano e chegou a superar a casa dos três dígitos ao final de 1979.

No começo da década de 1980, o país passou por uma forte recessão econômica marcada por altas taxas de desemprego que se estenderam até o final da década12Em 1981, por exemplo, o desemprego aberto atingiu a taxa de 10%. (PASTORE, 1979) . Durante essa década e início dos anos 90, verificou-se uma grande redução de postos de trabalho na economia brasileira e o crescimento do trabalho informal. Acoplado ao cenário de desemprego e precarização do trabalho, o ano de 1990 experienciou novamente um processo inflacionário que atingiu a taxa de 1.765% ao ano.

Por fim, as reformas econômicas do Presidente Fernando Collor de Mello trouxeram mais desencanto do que resultados, principalmente para as classes médias13Foi instituído o Plano Collor, que agravou mais ainda a situação, causando revolta na população não só pelas medidas econômicas, mas pelo esquema de corrupção atribuído ao então Presidente. Essas insatisfações deram origem à mobilização inédita dos “caras-pintadas,” que culminou no impeachment de Collor..

A crise e o impacto da reestruturação da economia mundial afetaram o mercado de trabalho brasileiro nos anos 90 e provocaram a queda na mobilidade social brasileira14BRITO, Fausto. (1995). Os Povos em Movimento – As Migrações Internacionais no Desenvolvimento do Capitalismo, em Neide Patarra. (Cord.). Emigração e Imigração Internacionais no Brasil Contemporâneo. Campinas: FNUAP.. Entre 1990 e 1992, registrou-se uma redução de 19% no nível de emprego assalariado formal e uma elevação do trabalho por conta própria e do trabalho doméstico15MARTES, Ana Cristina Braga. (1999). Brasileiros nos Estados Unidos – Um Estudo Sobre Imigrantes em Massachusetts. São Paul: Editora Paz e Terra.. Assim, conforme salientam Patarra e Baringer (1995), a migração interna, que foi sempre um elemento de absorção do excesso de mão de obra das várias regiões do país, não mais garantiu a mobilidade social, induzindo uma parcela significativa da classe média, principalmente os mais jovens, a buscar novas oportunidades na imigração para os Estados Unidos, Europa e Japão.

 

A recuperação econômica entre 1993 e 1995 foi insuficiente para alterar esse quadro econômico. No final da década, os juros altos, o aumento do desemprego e a diminuição na produtividade mantiveram a situação de crise. O período do governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso (1994-2001) foi marcado por muitas mudanças na esfera internacional, tais como o fim da guerra fria, a intensificação do fenômeno da globalização, além de um quadro financeiro internacional instável – crises mexicanas, asiáticas, russas e argentinas que abalaram a economia brasileira.

Em anos mais recentes, novos fluxos se mareializaram …

Por fim, não podemos minimizar a importância de fatores como a violência urbana, a corrupção e a desorganização social como motivos que influenciam a decisão de emigrar. Em várias pesquisas realizadas nos Estados Unidos, assim como em outros países, os emigrantes brasileiros apontam como causa importante da emigração a busca por uma vida melhor, objetivo este que engloba não só aspectos econômicos, mas também aspectos relacionados à qualidade de vida. Em pesquisa realizada pela empresa Synovate Brasil, em 200716Synovate Brasil – Imigrantes Brasileiros Residentes nos Estados Unidos (2007)., 77% dos emigrantes brasileiros entrevistados apontaram como razão da emigração aspectos ligados ao mesmo motivo; 55% responderam que emigraram “à procura de uma vida melhor”; 12% alegaram ter emigrado para “recomeçar a vida”, 6% em busca de “melhor educação para os filhos;” e 4% “para fugir da violência”. Somente 24% emigraram por questões relacionadas a emprego. Desses, uma parte respondeu que foi em “busca de um salário maior” (11%); e outra em “busca de emprego” (10%). Um ano depois, a mesma empresa realizou uma nova pesquisa17Synovate Brasil – Remetentes e Beneficiários – Massachusetts e Microrregião de Governador Valadares (2008). para a Caixa Econômica Federal confirmando as mesmas razões para a emigração18LIMA & CASTRO, 2017.

Complementando os estudos acerca das razões da emigração, outra pesquisa realizada entre brasileiros residentes em Massachusetts 19LIMA & PLASTRIK, 2007 indicou que 48% atribuíram como razão para emigração a “busca por uma vida melhor” e 8% vieram “começar a vida” ou proporcionar uma melhor “educação aos seus filhos” (1%). Para 28% dos brasileiros entrevistados, as razões da emigração estiveram relacionadas ao trabalho, sendo que 20% emigraram “por um salário melhor” e 8% em “busca de emprego”. 

Por outro lado, é necessário ressaltar que uma reestruturação no sistema produtivo das economias avançadas provocou um aumento da demanda por trabalhadores altamente qualificados e bem pagos20PIORE, 1980 e, ao mesmo tempo, uma crescente procura por trabalhadores manuais de baixa qualificação e remuneração. Dá-se, então, uma bifurcação na estrutura do emprego das economias avançadas quanto ao salário, condições de trabalho, segurança e estabilidade.

É nesse quadro, via a emigração, que se opera a troca do trabalho que dá prestígio no Brasil pelo trabalho que paga bem no exterior. Os emigrantes

Fonte: Brasileiros na América. Alvaro Lima. 2009.

brasileiros, ainda que inseridos no mercado de trabalho informal dos países onde residem, conseguem rendimentos cerca de três a quatro vezes superiores aos que alcançariam no Brasil. Segundo a antropóloga Maxine Margolis (1994), a diferença entre o que os brasileiros ganham em uma semana nos Estados Unidos e o que ganhariam no Brasil é de quatro para um, ou seja, aquilo que os brasileiros ganham em uma semana nos Estados Unidos equivale ao rendimento de quatro semanas de trabalho no Brasil. No Japão, essa relação chega a ser de 5 a 10 vezes maior. Essa é, no entanto, uma ascensão truncada, pois geralmente significa a troca de status pela possibilidade de consumo maior21SALES, 1999.

Na década de 1980, o fluxo imigratório de saída era oriundo principalmente das regiões Sudeste e Sul do Brasil, representando aproximadamente 90% de todo o fluxo de saída. Na década de 1990, o fluxo oriundo dessas regiões caiu para aproximadamente 79%. Esse declínio ocorreu em função do aumento significativo da imigração da região Norte para a Guiana Francesa, Venezuela, Bolívia, Guiana e Suriname, e do aumento também significativo da imigração da região Nordeste para a Europa e para os Estados Unidos. Além disso, a imigração para os Estados Unidos tornou-se mais diversificada, incluindo novas regiões de origem, como Goiás e vários estados do Nordeste.

Na metade da década de 1990, o fluxo de São Paulo para o Japão aumentou com a emigração dos dekasseguis22A palavra dekassegui (em japonês 出稼ぎ) é formada pela união das palavras japonesas 出る (deru, que significa “sair”) e 稼ぐ (kasegu, que significa “para trabalhar, ganhar dinheiro trabalhando”). O termo tem como significado literário o conceito de estar “trabalhando distante de casa” e designa qualquer pessoa que deixa sua terra natal para trabalhar temporariamente em outra região ou país.. A partir de 1990, inverteu-se a direção do movimento populacional entre o Brasil e o Japão. O fluxo em novo sentido foi fortalecido por mudanças na concessão de vistos de residência para filhos e netos de japoneses. Os vistos, concedidos por período de 3 a 5 anos, eram renováveis e tinham o intuito de atrair trabalhadores que pudessem suprir a carência de mão de obra na crescente indústria japonesa.  

Cada vez mais os brasileiros que emigram são oriundos dos centros urbanos e fazem parte das camadas médias da população. Hoje, mais de 16 estados brasileiros contribuem de forma expressiva para esse fluxo emigratório, sendo que os estados de Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Paraná e Santa Catarina são os cinco estados mais representativos nesse movimento. No Censo Demográfico de 2010, o IBGE registrou a região Sudeste como a principal origem do fluxo emigratório com aproximadamente 49% dos emigrantes. São Paulo enviou 21,6% dos emigrantes, seguido de Minas Gerais, com 16,8%. O Rio de Janeiro, com 7,1%, ficou na quinta posição. Da região Sul partiram 17,2% dos brasileiros emigrantes, sendo 9,3% oriundos do Paraná, terceiro estado em importância na emigração. A região Nordeste contribuiu com 15%, com destaque para o Estado da Bahia (5,3%). A região Centro-Oeste foi a origem de 12% dos emigrantes, sendo Goiás, com 7,2%, o quarto estado em emissão de pessoas. A região Norte foi origem de apenas 6,9% da emigração.

Em 2010, dos 193 países de residência dos brasileiros, os primeiros 25 concentravam 94% do total de emigrantes. Os principais países de destino desse fluxo são os Estados  Unidos (24%) – cujo fluxo é oriundo de Minas Gerais (43%), Rio de Janeiro (31%), Goiás (23%), São Paulo (20%) e Paraná (17%) – seguido de Portugal (13%), segunda opção para os emigrantes oriundos de Minas Gerais (21%) e do Rio de Janeiro (9%). A Espanha (9%), Japão (7%), Itália (7%) e Inglaterra (6%) representam os outros países de maior concentração de emigrantes brasileiros. A Espanha é a segunda opção de destino para os goianos (20%), enquanto o Japão continua recebendo, na sua maioria, emigrantes oriundos de São Paulo e Paraná, respectivamente 20% e 15%.  Finalmente, os países vizinhos (Guiana Francesa, Venezuela e Bolívia), recebem emigrados do Amapá, Roraima e Acre, enquanto os países das fronteiras centro-sul (Argentina, Paraguai e Bolívia) são destinos para emigrantes do Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso

QUANTOS SOMOS E ONDE VIVEMOS

A mensuração dos emigrantes brasileiros em um determinado país é muito difícil porque (1) os registros sobre as saídas de brasileiros são muito precários; (2) poucos são os países que têm estatísticas confiáveis sobre o número de imigrantes em seu território, já que muitos estão lá irregularmente; e (3) o tipo de informação obtida refere-se ao estoque, isto é, ao volume acumulado de imigrantes residentes no país na data do censo. Assim, as informações sobre o número de brasileiros vivendo no exterior são contraditórias e, dependendo da fonte, apresentam grande variação, como veremos a seguir.

População Brasileira por Continente (%) – 2009 (Ministério das Relações Exteriores – MRE)

Utilizando técnicas indiretas, o pesquisador José Alberto Magno de Carvalho (1996), com base nos censos brasileiros de 1980 e 1991, estimou que 1,8 milhões de pessoas com mais de dez anos de idade deixaram o país na década de 1980. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) “descobriu” no censo brasileiro de 1991 uma ausência estatística de cerca de 1,4 milhões de pessoas entre as idades de 20 e 44 anos. Carvalho (2004), considerando o saldo migratório internacional do Brasil entre 1990 e 2000, referente à população com 10 anos ou mais de idade, calcula que este saldo seria negativo em aproximadamente 500 mil pessoas.

Entretanto, mesmo com toda dificuldade de estimar os saldos migratórios, pode-se dizer com alguma certeza que de 1980 a 2000, o Brasil perdeu no mínimo uma população de aproximadamente 2 milhões de pessoas – 1,8 milhões na década de 80 e pelo menos meio milhão na década seguinte. Como referido anteriormente, o Ministério das Relações Exteriores estima que em 2015 cerca de 3 milhões de imigrantes brasileiros estavam concentrados em grande parte na América do Norte (44%), Europa (28%), América Central e Caribe (0,3%), América do Sul (18%), Ásia (7%), África (0,7%), Oriente Médio (1%) e Oceania (1%). Na América do Norte, os Estados Unidos têm a maior concentração de imigrantes brasileiros, representando cerca de 42% do total dos imigrantes brasileiros e 96% da população brasileira do continente. O Canadá e o México seguem à distância, com 3% e 1%, respectivamente. 

A evolução do número de brasileiros imigrantes nos países da América Latina indica, principalmente a partir de 1980, uma nova situação do Brasil no contexto regional. O Paraguai tornou-se o país da região com maior concentração de imigrantes brasileiros (62%), seguido da Argentina (8%), Guiana Francesa (7%), Bolívia (5%) e Venezuela, Uruguai e Suriname (3%).

A imigração brasileira para a Europa tem se intensificado nos últimos 20 anos. Portugal (19%), Espanha (15%), Reino Unido (14%), Alemanha (13%), Suíça (9%), França (8%) e Itália (8%) abrigam os maiores contingentes populacionais brasileiros no continente.

Na Ásia, o Japão é o país com quase a totalidade da população brasileira residente no continente (89%), constituindo a terceira maior comunidade imigrante nesse país.

As populações de brasileiros na África, no Oriente Médio e na Oceania são bastante pequenas e concentradas em poucos países. Na África, Angola reúne 60% da população brasileira do continente. O Líbano (35%), Israel (23%) e os Emiratos Árabes Unidos (21%) acolhem a maioria da população brasileira do Oriente Médio. Já na Oceania, 83% dos imigrantes brasileiros vivem na Austrália e os outros 17% na Nova Zelândia.

Frente a esses dados, faz-se necessário relembrar a importância da estimativa do número de brasileiros residentes no exterior. Como apontado anteriormente, o Ministério das Relações Esteriores (MRE)  estima a existência de cerca de 3,1 milhões de emigrantes brasileiros no ano de 2015. Essas estimativas, como explica o MRE, “buscam levar em conta vários fatores, como: dados oficias fornecidos por autoridades migratórias locais; censos oficiais; número de eleitores registrados na jurisdição, número de matriculados nos consulados; sondagens junto à comunidade; solicitações de passaportes e outros documentos por brasileiros; movimento geral da repartição e de consulados itinerantes; dados disponíveis sobre a saída do país e retorno de brasileiros;  percentuais de redução de remessas; publicações da Organização Internacional para Migrações (OIM); estudos da OCDE; trabalhos acadêmicos e artigos na imprensa além da compilação das respostas à pergunta específica que constou do último censo oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010 sobre o número de familiares residentes em outros países. 

O Censo Brasileiro de 2010 incluiu um bloco de perguntas visando conhecer de forma mais detalhada o fenômeno da emigração brasileira. O IBGE estima que 491.645 brasileiros vivem no exterior, reconhecendo que este número subenumera tal população. Entre outros fatores para essa subenumeração, o IBGE cita a possibilidade de que (1) todas as pessoas que residiam em determinado domicílio tenham emigrado; (2) que aquelas que ficaram no território brasileiro tenham falecido; ou (3) que aqueles que há muito tempo encontram-se no exterior tenham sido desconsiderados.

Finalmente, a Organização Internacional para as Migrações – OIM no seu Perfil Migratório do Brasil de 2009 estimou que há entre 2,5 milhões a 4 milhões de brasileiros vivendo fora do país, na sua maioria nos Estados Unidos, Paraguai, Japão, Reino Unido e Portugal.

Como pode ser inferido, a base de estimativa da população brasileira emigrante é bastante precária, variando de fonte a fonte em escala bastante apartada. 

AMÉRICA DO NORTE

Segundo o Ministério das Relações Exteriores (2014), na América do Norte, os Estados Unidos têm a maior concentração de imigrantes brasileiros. Os 1,3 milhões de brasileiros que residem no país representam cerca de 42% dos imigrantes brasileiros e 96% da população brasileira no continente. O Canadá e o México seguem à distância, com 3% e 1%, respectivamente.

No entanto, o American Community Survey (ACS), uma pesquisa anual do U.S.Census Bureau, registrou somente 339.613 brasileiros residentes nos Estados Unidos em 2010. O Censo Brasileiro de 2010, citado anteriormente, traz o número a 117.104.

Embora a imigração brasileira nos Estados Unidos ainda esteja concentrada nos estados de Massachusetts, Flórida, Nova JerseyNova York Califórnia, ela tem conhecido uma grande dispersão nas últimas décadas, fato este que não se dá, pelo menos com a mesma intensidade, no Canadá e muito menos no México. A maioria dos brasileiros que emigram para o Canadá mora em Toronto e aqueles residentes no México concentram-se na região metropolitana da Cidade do México.

Segundo a antropóloga Maxine Margolis (2009), os primeiros imigrantes brasileiros nos Estados Unidos vieram da cidade mineira de Governador Valadares. Tal ligação com Valadares, segundo a autora, começa durante a segunda guerra mundial, quando o Brasil passou a ser um dos maiores produtores de mica – na época, material crítico usado para isolamento em equipamentos militares. A mica era minerada nos arredores da cidade de Governador Valadares por empresas americanas. Após o final da guerra, a indústria entrou em crise, entretanto os vínculos entre Valadares e os Estados Unidos continuaram: engenheiros e demais profissionais estadunidenses, no retorno para seu país, “levaram” consigo alguns dos empregados brasileiros. A experiência com os americanos em Valadares e as histórias sobre a vida nos Estados Unidos contada por esses brasileiros pioneiros inspiraram outros, anos depois, a empreenderem a viagem àquele país.

AMÉRICA DO SUL

A evolução do número de brasileiros nos países da América Latina indica, principalmente a partir de 1980, uma nova situação do Brasil no contexto regional. Segundo registros do Ministério do Trabalho e Emprego,23Atual Secretaria do Trabalho o número de brasileiros na Argentina diminuiu (de 48 mil para 33 mil pessoas entre 1960 e 1991), ao passo que no mesmo período o número de argentinos no Brasil aumentou (de 15 mil para 25 mil). O mesmo ocorreu com o Uruguai, onde o número de brasileiros tem se estabilizado desde 1975 em torno de 14 mil pessoas, enquanto o total de uruguaios no Brasil subiu de 11 mil, em 1960, para 22 mil, em 1991. No Peru, o número de brasileiros passou de 3 mil em 1972 para 2,5 mil em 1993, sendo que em 1960 2,5 mil peruanos encontravam-se no Brasil, número inflado para 5,8 mil em 1991. A Colômbia chegou a registrar 2,3 mil brasileiros em 1960, baixando para 1,4 mil em 1993. Em contrapartida, o Brasil registrava 2 mil colombianos em 1991, quantidade diminuída para 685 em 1960.

De acordo com o mesmo documento, o Brasil sempre apresentou maior quantidade de chilenos e bolivianos do que o Chile e a Bolívia apresentava de brasileiros. Esta tendência, no entanto, não se verificou nas trocas populacionais do Brasil com o Paraguai. Em 1960 havia cerca de 34 mil brasileiros no Paraguai, volume elevado para 98,8 mil em 1980, chegando a 107 mil em 1990. Em 2010, segundo estimativas do Ministério das Relações Exteriores, a população brasileira no Paraguai chegava a 200 mil pessoas, sendo este o país sul-americano com a maior concentração de imigrantes brasileiros (49%), seguido pela Bolívia, com 50.100 (12%), Argentina, com 37.100 (9%), Uruguai, com 30.135 (7%), Venezuela, com 26.000 (6%), Suriname, com 20.000 (5%), e Guiana Francesa, com 18.000 (4%).

O Censo Brasileiro de 2010IBGE registrou 8.631 brasileiros vivendo na Argentina, quantidade seguida pela Bolívia (7.919), Paraguai (4.926), Guiana Francesa (3.822), Suriname (3.416), Venezuela (2.297), Chile (2.297) e Uruguai (1.703).

As estimativas mais recentes do Ministério dos Relações Exteriores (2014) registram números bem maiores. O Paraguai tornou-se o país da região com a maior concentração de imigrantes brasileiros, 349.842 (62%), seguido da Argentina, com 47.045 (8%), Guiana Francesa, com 38.700 (7%), Bolívia, com 28.546 (5%) e Venezuela, Uruguai e Suriname (3%).

EUROPA

O primeiro fluxo importante da emigração brasileira para a Europa, por razões históricas e culturais, diz respeito à entrada de brasileiros em Portugal. Esse fluxo se consolidou durante a década de 1990 e permaneceu relativamente estável até o final da década de 2000. Os dados mais recentes do MRE são de 2014  e contam Portugal com uma população de imigrantes brasileiros na ordem de 167 mil pessoas, ou 19% 

da população brasileira imigrante na Europa. A Espanha ocupa a segunda posição em relação à população de brasileiros no continente, com uma população de 128.638 (15%), seguida do Reino Unido, com 120 mil (14%), Alemanha, com 113.716 (13%),  Suíça, com 81 mil (9%), França, com 70.000 (8%), e Itália, com 69 mil (8%), somando juntos o maior contingente populacional brasileiro no continente.

Em linhas gerais, de acordo com o documento Perfil Migratório do Brasil, citado anteriormente, com exceção dos fluxos mais antigos para Portugal, a população brasileira imigrante na Europa é composta basicamente por jovens adultos entre 20 e 40 anos, de ambos os sexos, com escolaridade elevada (em média, mais de 50% dos brasileiros em todos os países europeus têm pelo menos 13 anos de estudo). Com exceção de Portugal, a maior parte dessa emigração não se constitui por famílias e apresenta elevado índice de emigrantes em situação irregular.
 
Pode-se ressaltar ainda que fatores históricos e culturais influenciam os deslocamentos para a Europa, com o exemplo de emigrantes brasileiros da atualidade percorrendo o caminho inverso que imigrantes portugueses, espanhóis, alemães e italianos percorreram no passado. 

No Reino Unido, a maioria dos brasileiros reside em Londres. Em Portugal, concentram-se em Lisboa e seus arredores. Na Espanha, em Madri e Barcelona; na Alemanha, aglomeram-se na grande Berlin; na Itália, estão na sua maioria em Roma; e na França, em Paris.

O Censo Brasileiro de 2010 IBGE registrou Portugal (65.969), Espanha (46.330), Itália (34.652), Reino Unido (32.270), França (17.743), Alemanha (16.637) e Suíça (12.120) como os países europeus com maior concentração de brasileiros.

ÁSIA

Na Ásia, o Japão, com 179.649 brasileiros24MRE, 2014, é o país com quase a totalidade da população brasileira residente neste continente (89%), constituindo-se ainda na terceira maior comunidade imigrante neste país. No final da década de 1980, filhos e netos dos japoneses chegados ao Brasil no início do século XX, emigraram para o Japão em busca de trabalho. Esse fluxo migratório é bastante singular porque a grande maioria desses brasileiros possuem status migratório regular como trabalhadores contratados por empresas japonesas.

Por serem descendentes (filhos ou netos) dos japoneses que há um século atrás emigraram para o Brasil, eles são provenientes das mesmas regiões de destino de seus pais ou avós (Paraná e São Paulo). Como anteriormente citado, no Japão, os imigrantes brasileiros ficaram conhecidos como dekasseguis. A palavra dekassegui (em japonês 出稼ぎ) é formada pela união das palavras 出る (“deru“, que significa sair) e 稼ぐ (“kasegu“, que significa para trabalhar, ganhar dinheiro trabalhando), tendo como significado literário o conceito de estar “trabalhando distante de casa” e designa qualquer pessoa que deixa sua terra natal para trabalhar temporariamente em outra região ou país). Segundo Carvalho (2003), os emigrantes dekasseguis apresentam nível de escolaridade mais elevado entre todos os emigrantes brasileiros. O mesmo autor observa ainda que há um relativo equilíbrio entre homens e mulheres, com os primeiros representando 54,8% da população imigrante brasileira para o Japão em 2006. Sasaki (2008), pesquisadora da emigração no eixo BrasilJapão, chama atenção para o fato de que se em 1996 a população de brasileiros no Japão era constituída na sua maioria por jovens casados e chefes de família que deixavam o Brasil para uma estadia temporária e breve retorno, em 2006 passou-se a observar a emergência de um grupo de jovens, homens e mulheres, muitos deles com a pretensão de permanecer definitivamente no Japão.

O Censo Brasileiro de 2010 estimou que 43.912 brasileiros viviam na Ásia, 36.202 destes no Japão e 2.209 na China, com o restante distribuído pelos demais países asiáticos.

ÁFRICA, ORIENTE MÉDIO E OCEANIA

As populações de brasileiros na África, Oriente Médio e Oceania são bastante pequenas e concentradas em poucos países. Na África, segundo estimativas do MRE, Angola tem uma população de 15 mil brasileiros, representando 60% dos brasileiros residentes no continente. O Líbano, com 15 mil brasileiros (35%), Israel, com 10 mil (23%), e os Emirados Árabes Unidos, com 9 mil (21%), acolhem a maioria da população brasileira no Oriente Médio. Na Oceania, 27 mil (83%) dos imigrantes brasileiros residem na Austrália e os outros 5.600 (17%) na Nova Zelândia.

Essas estimativas são oriundas também do Ministério das Relações Exteriores do Brasil MRE para o ano de 2014. Já o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE estima uma população de emigrantes brasileiros na África de cerca de 8.286 pessoas, com 3.696 destas vivendo em Angola, 2.479 na África do Sul e o restante distribuído entre os outros países africanos. O IBGE registrou ainda cerca de 13.880 brasileiros residentes na Oceania, a grande maioria vivendo na Austrália (10.836) e Nova Zelândia (2.980).

POR QUE OS BRASILEIROS VOLTAM – O RETORNO

O retorno dos brasileiros pode ser aferido pelo número daqueles que na data dos censos demográficos de 1990, 2000 e 2010 residiam no Brasil, mas que retornaram ao país cinco anos antes do censo. Entre os censos de 1990 e 2000, verificou-se um incremento de 182% desse contingente, ou seja, em 1991, 31.124 pessoas declararam um país estrangeiro de residência cinco anos antes da data de referencia do censo, enquanto que em 2000 esse número era de 87.400 pessoas. Segundo Wilson Fusco e Sylvain Souchaud (2010), o fluxo de retornados brasileiros desse período, ainda que bastante diversificado, concentra-se em três países, Paraguai, Japão e Estados Unidos, responsáveis por cerca de 60% do movimento de retorno. 

Os autores analisaram o retorno com base nos dados do Censo de 2000 (IBGE), que indica a distribuição dos retornados por município, definidos em função doPopulação Nascida no Brasil com Residência Anterior no Paraguai país de nascimento e residência no momento do censo, e da declaração da última residência em país estrangeiro nos dez anos anteriores ao censo.

O retorno do Paraguai constitui o maior fluxo de brasileiros retornados. Em 2000, 50.201 pessoas nascidas e residentes no Brasil declararam residência anterior no Paraguai, representando 26,8% do total da população brasileira retornada. De uma forma geral, os retornados têm um nível educacional mais elevado do que o observado para os não-migrantes, com exceção dos retornados do Paraguai, que têm um nível próximo do encontrado para os não-migrantes residentes em zonas rurais (instrução fundamental incompleta) e salários inferiores aos da população residente. Tal fenômeno pode ser explicado pela origem de tais retornados, que são na sua maioria agricultores. No entanto, os retornados da Europa, Estados Unidos,  Canadá e Japão tinham pelo menos o terceiro grau completo e salários superiores aos dos brasileiros morando em áreas metropolitanas25FERNANDES, 2008.

De acordo com Fernandes (2008), em geral, os retornados dos países vizinhos estão na sua maioria trabalhando por conta própria e em atividade de um perfil de menor remuneração enquanto aqueles retornados dos Estados Unidos e da Europa estão ocupados em atividades, em geral, melhor remuneradas. ‎ O mapa a seguir ilustra a distribuição dos retornados do Paraguai segundo o município de residência em 2000. Como podemos ver, grande parte deles estão concentrados nos estados do Paraná (61,8%), Mato Grosso do Sul (16,3%), Mato Grosso  (5,4%), Santa Catarina (5,4%), São Paulo (3,8%), Rio Grande do Sul (3,5%) e Rondônia (1.1%).

O Paraná não só é o lugar de nascimento de muitos migrantes, mas também o lugar de última residência anterior ao ingresso no Paraguai. Muitas vezes,População Nascida no Brasil com Residência Anterior no Japão gaúchos, catarinenses e baianos, por exemplo, vivem por umdeterminado período de tempo no Paraná antes de emigrar para o Paraguai. O Rio Grande do Sul, assim como o Paraná, é um lugar onde a expansão da fronteira agrícola, nos anos 1980 e 1990, expulsou muitas famílias que alimentaram as camadas mais pobres da população brasileira imigrante no Paraguai. Diferentemente destes dois estados, que na sua grande maioria recebem retornados natos, os estados do Mato Grosso e Rondônia  recebem retornados em busca de oportunidades e empregos ligados ao crescimento e dinamismo da agricultura comercial, principalmente aquela ligada à soja.

Ainda de acordo com Fusco e Souchaud (2010), os retornados do Japão formam o segundo maior grupo, contando com 17% do total dos retornados (31.775 pessoas). Ainda que perto do número de ‎retornados dos Estados Unidos, a comunidade brasileira no Japão é muito menor do que esta última. Tal fenômeno pode ser explicado pelo fato de a lei de imigração japonesa permitir múltiplos retornos, enquanto que a população brasileira indocumentada nos Estados Unidos raramente se arrisca a um retorno temporário.

O mapa abaixo ilustra a distribuição dos retornados do Japão, segundo o município de residência em 2000. Podemos observar que a maioria desses retornados, mais de 80%, volta a ‎residir nos mesmos estados marcados pela imigração japonesa para o BrasilSão Paulo e Paraná. Em menor proporção, eles seguem para Minas Gerais e Rio de Janeiro. Aqueles que voltam para o Pará são originários da antiga colônia Acará, atualmente Tomé-Açu26BELTRÃO et al, 2006. ‎O retorno dos Estados Unidos, o terceiro maior, registrou um volume de 29.591 pessoas (16% do total de brasileiros retornados) segundo o censo de 2000. O número grande de imigrantes brasileiros indocumentados nos Estados Unidos dificulta não só a sua contagem no país de destino, mas também sua contagem no momento do retorno.

O mapa a seguir mostra que os retornados dos Estados Unidos voltam predominantemente para São Paulo (7.495), Minas Gerais (6.241) e Rio de JaneiroPopulação Nascida no Brasil com Residência Anterior nos Estados Unidos (4.971). Em seguida, verifica-se sua presença no Paraná (1.755), Rio Grande do Sul (1.468), Distrito Federal (1.269) e Goiás (1.266).

A maioria dos retornados dos Estados Unidos (97,2%) e Japão (94,4%) retornam para zonas urbanas, enquanto os retornados do Paraguai apresentam um menor índice de domicílios urbanos (72%). Quando consideramos também suas ocupações no momento do retorno, a maioria daqueles que voltam dos Estados Unidos trabalham nos setores da educação (19,8%), comércio (15%) e atividades imobiliárias (13%). Aqueles voltados do Paraguai apresentam uma grande participação no setor da agricultura (32%), seguido de ocupações industriais (15%), comércio (13,6%) e serviços domésticos (12%). Os brasileiros retornados do Japão ocupam com maior frequência posições nos setores comercial (29,7%), industrial (12,5%) e agrícola (10,6%), conforme ilustrado na tabela ao lado.

Segundo o Censo Brasileiro de 2010, mais de 174 mil emigrantes brasileiros retornaram ao país. Esse é um número bem maior do que o apontado pelo Censo de 2000 (87,4 mil), passando de 61% para 66% o percentual de brasileiros contados entre os imigrantes internacionais chegados ao Brasil.

Entre os 41.417 imigrantes chegados ao Brasil. (Dos 51.933 imigrantes brasileiros provenientes dos Estados Unidos, 84% eram brasileiros)

A recente crise de econômica de …. [TEXTO INCOMPLETO]

CONTRIBUIÇÃO ECONÔMICA

Os emigrantes brasileiros contribuem de várias maneiras para o progresso social e econômico dos países onde vivem. Suas contribuições resultam de suas atividades enquanto trabalhadores, empresários e dos seus gastos como consumidores. Somente nos Estados Unidos, onde há dados para tal cálculo, os empresários e consumidores brasileiros (estes últimos por meio de seus gastos enquanto consumidores) geram cerca de 628 mil empregos diretos e indiretos. Eles contribuem ainda com cerca de US$ 58 bilhões para o Produto Interno Bruto (PIB) e US$ 7 bilhões para os cofres dos governos federal e estaduais com suas contribuições fiscais.

Os emigrantes contribuem também para as economias locais de suas cidades natais por meio da remessa de dinheiro que, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento, totalizou mais de US$ 7.2 bilhões no ano de 2005, tornando o Brasil o segundo maior receptor de remessas na América Latina, atrás apenas do México. Cerca de metade das remessas recebidas no Brasil vem de brasileiros que vivem nos Estados Unidos. Os seus investimentos e empreendimentos noslocais de origem, além das poupanças que trazem no retorno, aumentam o impacto econômico desses emigrantes.

Esse fluxo de remessas não somente aumenta o consumo direto das famílias receptoras, mas também impacta a economia como um todo em virtude da maior propensão deconsumo das famílias de baixa renda. O Professor Manuel Orozco, diretor do programa Remittances and Development da organização Inter-American Dialogue, calcula que cada dólar remetido aumenta a renda em 1,78 dólares, um impacto multiplicador bastante significativo.

PARTICIPAÇÃO CIDADÃ

Os brasileiros também contribuem por meio de sua participação cultural e cívica. Organizações midiáticas, jornais, programas de televisão e rádio são hoje parte do refazer dessas sociedades. A mídia brasileira tem estabelecido presença permanente na vida das comunidades brasileiras. Atualmente, somente nos Estados Unidos, existem cerca de 300 veículos de comunicação de vários tipos, incluindo a Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI-I). Além desses veículos, a comunidade brasileira sustenta três das maiores redes de televisão brasileiras com transmissão diária via cabo ou satélite – a TV Globo Internacional, a TV Record e a Band Internacional, além da televisão pública TV Brasil Internacional.

Organizações não governamentais de apoio social e de integração nas sociedades locais, de defesa dos direitos humanos e dos direitos dos trabalhadores brasileiros abundam entre as comunidades brasileiras emigrantes.

Além dessas organizações, outras várias entidades, mais ou menos formais, dedicam seus esforços a aspectos culturais e esportivos – Organizações Culturais e Desportivas. Um papel importante também é desempenhado pelas entidades religiosas, que proporcionam não somente apoio espiritual, mas também material e às vezes político para emigrantes que vivem à margem da sociedade.

Além disso, a participação política por meio do voto à distância é de fundamental importância para que os emigrantes brasileiros articulem suas demandas junto ao governo brasileiro, de forma que este se engaje de modo consequente no apoio à diáspora brasileira.

Por fim, o Conselho de Representantes Brasileiros no Exterior  é resultado de um longo processo de organização das comunidades brasileiras mundo afora e é um instrumento de efetivação, na prática, da cidadania sem fronteiras.

 

Texto baseado no livro Brasileiros nos Estados Unidos – Meio Século Refazendo a América

 

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References
1 Imigração no Brasil por Nacionalidade
2 Firmeza, George Torquato, (2007), Brasileiros no Exterior. Brasília: FUNAG
3 A emigração brasileira é, no entanto, muito pequena quando comparada à população residente. Por exemplo, a população emigrante brasileira representa apenas 0,53% da população residente, fazendo o Brasil ocupar a posição 195 no ranking dos 200 países com saldo migratório negativo, ficando à frente somente da Líbia, posição 196 (0,49%); China, posição 197 (0,43%); Bahamas, posição 198 (0,36%); República Centro Africana, posição 199 (0,17%); e Coréia do Norte, posição 200 (0,16%). (DORLING, 2009)
4 Na América Latina, o Brasil figurava até a década de 1970 como uma área de evasão populacional para os países vizinhos, em especial para o Paraguai e a Argentina. A partir da década de 1980, o país passa a se configurar como uma das áreas de recepção migratória de latino-americanos. (BANINGER, 2005)
5 Ver em: Estimativas 2015
6 MARGOLIS, M.L.  (1994): Little Brazil: An Ethnography of Brazilian Immigrants in New York. Princeton. NJ. Princeton University.
7 SALES, T., (1998). Brasileiros Longe de Casa. São Paulo, Editora Cortez.
8 Comumente, a década de 1980 é chamada de “década perdida” no que se refere ao desenvolvimento econômico de muitas nações. Vivido pelo Brasil e por outros países da 

América Latina, essa fase de estagnação formou-se com uma retração agressiva da produção industrial. Na maioria dessas nações, os anos 80 representam o mesmo que crise na economia, inflação, crescimento baixo do Produto Interno Bruto (PIB), volatilidade de mercados e aumento da desigualdade social.

9 BROOKE, James. (1993). Brazil Wild Wyas to Counter Wild Inflation. New York: The New York Times.
10 Segundo a socióloga Peggy Levitt (2001), “the assumption that people live their lives in one place, according to one set of national and cultural norms, in countries with impermeable national borders, no longer holds”. In Levitt P., The Trasnnational Villagers, 2001. Los Angeles and Berkley: University of California Press.
11 BELLUZZO, Luis Gonzaga de Mello e Coutinho, Renata (Org.). Desenvolvimento Capitalista no Brasil. Campinas: UNICAMP. IE. 1998, V.I.
12 Em 1981, por exemplo, o desemprego aberto atingiu a taxa de 10%. (PASTORE, 1979)
13 Foi instituído o Plano Collor, que agravou mais ainda a situação, causando revolta na população não só pelas medidas econômicas, mas pelo esquema de corrupção atribuído ao então Presidente. Essas insatisfações deram origem à mobilização inédita dos “caras-pintadas,” que culminou no impeachment de Collor.
14 BRITO, Fausto. (1995). Os Povos em Movimento – As Migrações Internacionais no Desenvolvimento do Capitalismo, em Neide Patarra. (Cord.). Emigração e Imigração Internacionais no Brasil Contemporâneo. Campinas: FNUAP.
15 MARTES, Ana Cristina Braga. (1999). Brasileiros nos Estados Unidos – Um Estudo Sobre Imigrantes em Massachusetts. São Paul: Editora Paz e Terra.
16 Synovate Brasil – Imigrantes Brasileiros Residentes nos Estados Unidos (2007).
17 Synovate Brasil – Remetentes e Beneficiários – Massachusetts e Microrregião de Governador Valadares (2008).
18 LIMA & CASTRO, 2017
19 LIMA & PLASTRIK, 2007
20 PIORE, 1980
21 SALES, 1999
22 A palavra dekassegui (em japonês 出稼ぎ) é formada pela união das palavras japonesas 出る (deru, que significa “sair”) e 稼ぐ (kasegu, que significa “para trabalhar, ganhar dinheiro trabalhando”). O termo tem como significado literário o conceito de estar “trabalhando distante de casa” e designa qualquer pessoa que deixa sua terra natal para trabalhar temporariamente em outra região ou país.
23 Atual Secretaria do Trabalho
24 MRE, 2014
25 FERNANDES, 2008
26 BELTRÃO et al, 2006

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